quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não vá carregada para o parto*




O medo, a insegurança, a falta de auto-confiança, a distância em relação ao corpo são pesos que carregamos para o parto e vão condicioná-lo. Preparar-se para o parto é sobretudo aliviar a carga.

A parteira mexicana Naoli Vinaver diz que carregamos muitas malas conosco para o parto. Não é só a mala com as nossas roupas e as do bebé. São as malas com tudo o que temos por resolver na nossa vida, com tudo aquilo que o que nos amarra. São malas bem pesadas, por vezes. E às vezes são imensas. Durante o trabalho de parto vamos libertando-nos de muitas delas,vamos-nos desamarrando.

Por isso se diz que o parto pode ser transformador. Mas se o peso for excessivo, o parto pode arrastar-se,complicar-se ou até não ter início. Por isso, a enfermeira parteira Lúcia Leite diz que «a preparação para o parto faz-se no coração e na cabeça, trabalhando os medos e a auto-confiança.»

Por isso, o obstetra Ricardo Jones escreve: «Tanto quanto no sexo, existe muito mais no nascimento humano do que o que se pode encontrar no corpo e suas medidas.» Apesar de a obstetrícia ainda não incorporar na sua prática esta evidência científica, a verdade é que se descobriu «uma nova dimensão no nascimento, qual seja, a indissociabilidade das emoções e sentimentos ao lado dos eventos mecânicos já conhecidos.

Ficou evidente que muitas mulheres falhavam em ter seus filhos de uma forma mais natural porque algo além do corpo as impedia.» O medo faz com que as mulheres estejam contraídas e não deixa libertar as hormonas que estimulam as contracções e a dilatação. Isto é assim porque somos mamíferos e a natureza, que sabe o que faz, encontrou esta forma de proteger as nossas crias: elas não nasceriam em ambiente
ameaçador, mas apenas quando a mãe estivesse tranquila e segura.

Tendo em conta estas evidências, vale a pena preparar-se e aliviar alguma da sua carga. Faça-o por si e pelo seu bebé. Um parto com menos intervenção é um parto mais saudável, com menos riscos, que leva a um pós-parto infinitamente mais fácil. O poder de dar à luz o seu bebé está em si. Só tem de descobri-lo. Deixamos-lhe algumas dicas:

- Converse com alguém da sua confiança, fale dos seus medos, mesmo daqueles que parecem mais inconfessáveis, mais patetas, mais simples ou mais complicados.

- Se não tem ninguém com quem falar do mais íntimo do íntimo, dos medos mais inconfessáveis, se lhe custa verbalizar, ouvir-se dizer coisas que ainda nem percebeu muito bem... escreva. Um diário de gravidez é bom, mas é para deixar para a história. Escreva num caderno que seja só seu, onde não sinta os olhares de quem vai ler. Registe sentimentos, medos, inseguranças e estará a libertar-se de um grande
peso. Escrever é uma excelente maneira de deitar cá para fora porque ninguém nos está a ouvir, mas também de organizar as ideias, trabalhar os medos, estruturar as prioridades.

- Participe em listas de discussão sobre parto humanizado.

- Procure uma doula que a poderá acompanhará na gravidez, no parto e no pós-parto dando-lhe apoio emocional, ajudando-a a desfazer muitos dos seus medos.

- Faça uma lista daquilo que quer fazer ou resolver antes de do parto. Não se limite às compras e à preparação do quarto do bebé.

- Pratique ioga ou pilates. Ajuda não só fisicamente, mas também mentalmente, promovendo bem-estar e a união com o bebé.

- Aprenda técnicas de relaxamento ou meditação. Para quem tem altos níveis de ansiedade, estas técnicas são uma excelente forma de encontrar mais tranquilidade e confiança no próprio corpo. Um relaxamento profundo produz ondas cerebrais alfa, diminui a tensão arterial, reduz a tensão muscular, logo reduz também o stress e a
ansiedade.

- Visualização positiva: visualizar o bebé estimula a ligação com ele e acalma os medos.

- Abrande o ritmo perto do final da gestação. Se puder, suspenda o trabalho. Dedique-se a fazer o ninho e relaxar. Passeios à beira-mar e ouvir música são boas actividades para aproveitar o fim do tempo de gestação.


* Da matéria:
http://www.mae.iol.pt/artigo.php?id=1070113&div_id=3627

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Relato de um parto maravilhoso*


Faço aqui meu relato de parto, para troca de experiências, algo que me ajudou muito durante a gestação, trabalho de parto e parto.

Primeiramente, tive uma gestação muito tranquila. Sem problemas de saúde (a única coisa que me incomodava eram as dores nas costas e a gastrite que agravaram), diminui o ritmo de trabalho (que antes era tido como prioridade e tinha um ritmo doido), engordei apenas 7 kg e fazia aula para gestantes com a doula Fátima de Brasília.

Com 38 semanas estava com um estresse por causa da mudança do apartamento, ficamos 20 dias na casa de amigos. Nos mudamos finalmente no dia 23 de agosto (segunda-feira), e eu preocupadíssima, pois de segunda para terça seria virada de lua cheia. hehe

Na terça-feira, 24 de agosto, tive diversas contrações, quando estavam de 5 em 5 minutos com duração de 30 segundos corri pra médica, Dr. Lucila Nagata, que me examinou e disse que ainda não era hora e que quando fosse eu saberia e ai ligaria pra ela.

As noites de terça até sexta tive contrações fortes com espaçamento de 10 minutos de uma para outra. Porém, durante o dia estas contrações se espaçavam mais, me levando a crer que não teria forças pra esperar até quando o João Guilherme resolvesse vir ao mundo. Amanhecia o dia acabada, pois não conseguia dormir.

Quinta-feira, com 39 semanas, fiz uma ecografia, que dizia que o colo ainda estava fechado e que o bebê estava com 3.800kg. De quinta para sexta perdi o tampão.

Sexta-feira, dia 27 de agosto, fui na consulta ao meio-dia e a médica me informou que já estava com 3 cm de dilatação. Sai da consulta e fui passar minhas coisas para minha colega que ficaria no meu lugar, às 16h estava com contrações fortes e vim pra casa, quase vim de metrô, minha mãe que não deixou. Liguei pro meu marido ir me buscar, pois tinha parado de dirigir na terça-feira com medo de ganhar o bebê no trânsito.

Em casa, tomei um banho quente, fiquei na bola rebolando, a cada contração me agachava, ficava de cócoras e de quatro. Com tantas contrações coloquei tudo pra fora, vomitando e tendo diarreia. Às 19h liguei pro meu marido, que tinha ido dar aula, pedindo que voltasse naquele instante pq já estavam fortíssimas as contrações.

Nesta bela Brasília, onde tudo parece de outro mundo, do primeiro mundo, às vezes não passa de uma cidade do interior de Goiás (nada contra as cidades do interior, falo no sentido do improviso que é nossa saúde). O meu plano (Geap) cobre cinco hospitais, visitei todos no último mês para escolher onde teria o bebê, tudo ok! Eu, em pleno trabalho de parto, ligando para os hospitais e surpresa: três deles com a maternidade fechada devido à falta de pediatras e um sem vagas para parturiente, o único que sobrou foi o Daher que não possui UTI neonatal, o que não deixa nenhuma mãe tranquila. Mas foi a nossa opção.

Chegamos no Hospital às 20h45, demoramos para subir para o quarto, quando subimos a médica fez o toque e já estava com 8 cm de dilatação, ela rompeu a bolsa e descemos para a sala de parto.

Parto normalíssimo!!!Sem cortes, sem analgesia. Às 21h55 nasceu meu bebê lindo!!!!!Perfeito!

A cada contração eu pedia pra ele me ajudar no parto. Foi um baita de um parceiro, companheiro. Logo que nasceu veio para meus braços, ficando ali por uma hora. Depois fomos juntos para a sala de recuperação e o pediatra fez todos os procedimentos do meu lado. Logo subimos para o quarto. No sábado a noite já estávamos com alta e em casa.

Estou sangrando um pouco ainda, mas sem dores.

O João Guilherme está super bem. Mamando, dormindo e mamando, dormindo.

Ah!para surpresa nossa ele nasceu com 3.100kg e 50 cm.

Acho que o que ficou de lição é:
- Que o parto normal é dolorido sim, mas é possível e é lindo!!tenho certeza que minha ligação com meu filho será melhor e maior, pois passamos por aquele momento, sabe? aquele momento que não foi de ninguém mais. Só nosso!Claro que o papai e a vovó que assistiam tudo, estava ali desfrutando da felicidade junto, da emoção, daquele momento mágico.
- Que o parto normal é o fisiológico, é o normal. Acho que cesária é um recurso, óbvio!e faria se precisasse, mas não podemos entrar nas falsas indicações, como no meu caso poderia ser a do tamanho (as três últimas ecografias diziam que ele estava com mais de 3kg e eu tenho 53 kg e 1.50 cm, alguns médicos diriam que eu não poderia parir um menino de 3.800kg).
- Que nem sempre podemos confiar nos exames e nos médicos que nos examinam.
- Que na hora do parto precisamos mesmo é escutar o corpo e agir conforme o corpo pede, sabemos fazê-lo.
- Que a partir da descoberta da gravidez a gente precisa mesmo é curtir, é tão bom!

Amei!Amei tudo e estou amando mais ainda o meu filho que é um anjo!

* Relato feito para as listas de discussão que participei durante toda a gestação: partonatural@yahoogrupos.com.br, gestanteshub@googlegroups.com

Símbolos e Passagens*


Existe simbologia em torno de quase tudo que presenciamos, vivemos, somos apresentados em nosso dia-a-dia. A percepção destes símbolos que nos rodeiam são primordiais para o melhor entendimento dos processos e rituais que acontecem a todo momento e nos norteiam frente às barreiras subliminares que desafiam nossa intuição e nos levam a sentir, muito mais que propriamente entender as coisas.

Quando o Arcanjo Gabriel, arauto da “Boa Nova”, apareceu anunciando o aupicioso filho de Deus, que cresceria no imaculado ventre de Nossa Senhora, na passagem da anunciação, presenteou Maria com lírios. A espada contida no centro desta flor enigmática trazia a idéia de uma falo, um instrumento no qual o Espírito Santo seria fecundado simbolicamente naquela que seria a divina concepção.

Com o passar do tempo o lírio tornou-se a representação da fecundidade. Além do poder e simbologia de qualquer concepção, o lírio, sobretudo o do campo, converteu-se em uma forma de aproximação com Deus. Por sua singeleza, profundidade e por florescer de forma livre, o lírio do campo foi associado a representação autêntica do abandono consciente à vontade e aos desígnios Divinos.


Por sua vez, o galanto, que floresce dias antes da chegada da primavera, tem em sua iconografia a mensagem da esperança. O fato de anunciar que o inverno rigoroso dará lugar a campos e vielas floridas, faz com que esta flor precoce seja o elo de ligação entre a provação implacável dos dias frios e sombrios e a estação das cores e aromas primaveris. Ela anuncia, assim como o lírio, que algo que muito esperávamos chegaria de forma quase messiânica.


A chegada radiante de João Guilherme, exatamente no período que antecede a primavera, traz consigo esta mensagem de esperança e o advento de algo que mudará a vida dos que o rodeiam de maneira contudente. Um divisor de águas. Ele chega carregado do amor que une os mundos sensível e inteligível.


Este rebento brota de um ventre irrigado de busca, de curiosidade, em um tempo onde as transformações nos desafiam a cada momento. Em uma era onde a força se converteu em atitude, em que a percepção dos símbolos passaram a ser diferenciais competitivos e norteadores do básico instinto de preservação da especie e até na evolução do processo civilizatório.


Desejo que voce receba esta mensagem como quem recebe um ramalhete de lírios do campo e galantos. Que este afilhado, que nos unirá profunda e definitivamente, seja um ponto de referência, um ritual de passagem, em nossas atitudes perante as coisas, nós mesmos e este universo a qual contribuimos no movimento que nos equilibra e fazem de cada um de nós seres simples e harmônicos. Pequeninos e gigantes.


Um fraterno abraço.

* Sócrates Magno, seu compadre.

domingo, 8 de agosto de 2010

Que cada um colha o que planta!


A minha mãe sempre diz que não vale a pena ficar remoendo coisas que nos magoam. Mas acho que este blog é um espaço para desabafo, um diário on-line que não é diário...
Estamos, eu, meu marido e minha cadelinha, na casa de uma amiga desde quinta-feira passada. As nossas coisas, como roupas, livros, utensílios, etc, estão na casa de outra amigona (só sendo verdadeiras amigas mesmo para tal).

Vendemos o apartamento de um quarto e estamos esperando os trâmites burocráticos para poder mudar para o que compramos de três quartos.

A pessoa que comprou o apartamento - digo pessoa porque acho que não merece ser chamada nem de mulher, até me ofendo sendo da mesma categoria dela - incomodou tanto, mas tanto para entregarmos o apartamento antes do prazo legal que acabamos entregando.

Na época da venda, inventamos de assinar um contrato com prazos menores do que a Lei obriga, pelo simples fato de entregar no prazo que a compradora queria, por acharmos que os prazos do novo apartamento não iriam atrasar e que nesta época já estaríamos no apartamento novo. Os prazos atrasaram, e este ser não foi capaz de ter o mínimo de consideração.

Azucrinou tanto e o estresse foi tanto, que apesar do nosso advogado dizer que não precisaríamos entregar o apartamento até o final do mês, achei que não valia a pena a briga.

Dizem que direito é uma luta de forças. Mas quem quer medir forças em pleno 9 meses de gestação?
Eu quero somente paz e amor nesta fase!

E não vai ser uma dona que diz "a tua gestação não é problema meu, não fui eu quem fiz o filho em ti" que vai me tirar a paciência ou o sossego.

Infelizmente é neste mundo em que vivemos. As pessoas não tem a mínima consideração com ninguém. Se preocupam apenas com os seus problemas e o resto que se f*.

Gostaria que meu filho vivesse num mundo diferente deste. Ao menos ele vai ser criado para fazer a diferença. Ser mais humano, mais solidário, mais gentil.

O gestar já é uma tarefa única e importante para a formação deste novo serzinho. A criação também não deve ser fácil, mas só o fato de ter a oportunidade de ajudar na formação de um bom caráter para que este nosso mundo seja melhor, já é gratificante.

Já pensou se todo mundo fosse filha da p*? Eu já teria desistido deste mundo e não estaria mais aqui para contar esta estória. Ainda bem que na vida da gente passa muita gente boa. E eu só quero que cada um colha o que planta!

Ui! esta se ferrou!!

sábado, 17 de julho de 2010

Gravidez


A gravidez é algo fantástico!

As pessoas conhecidas, amigas e também aquelas que a gente nunca viu na vida, te cumprimentam, sorriem e se alegram quando vêem o barrigão.
Não sei bem o que as pessoas pensam e sentem. Mas acho que não é apenas instinto, no sentido de perpetuação da espécie. É algo mais profundo, mais bonito que isso.
Pessoas que nem mesmo eu sabia que gostavam de mim, abrem um sorriso quando me vêem que chega a ser estranho. Parece que as gestantes tem uma luz, algo que ilumina de fato. Ficamos mais plenas....afinal são duas vidas mesmo.

Mas uma coisa que me chama a atenção são os palpites furados que rondam esta fase iluminada. As pessoas dizem cada coisa que a gente não sabe se ri, retruca ou finge que não ouviu.
São coisas do tipo: "Ah! a barriga redonda é menina, a pontuda é menino!", "tem que falar muito com o nenê. Eu não falava e meu filho teve problema na alfabetização", "menino nasce antes que menina", "não monta o berço antes do tempo porque senão o nenê nasce prematuro", "não come chocolate na gestação, senão teu nenê vai ter cólicas quando nascer".

Gente é tanto absurdo que chega a ser engraçado.

A vida como ela é

Tem horas que a gente pára e pensa o quanto é bom estar vivendo o que estamos vivendo. A vida dá tantas voltas e acontecem coisas que nunca imaginaríamos que poderia acontecer, ou talvez imaginássemos de uma maneira diferente daquela que de fato acontece.
Acabo de voltar do RS, revi amigos e parentes. Abracei amigos que há anos não via, volto pra casa e o aconchego do meu lar é tão bom quanto o da minha mãe. Isto me traz um conforto enorme, pois apesar de morrer de saudades do cantinho que vivi por duas décadas, hoje tenho o meu canto.
A sintonia é tanta neste cantinho de hoje que a Luna, minha cadelinha amada, estava com gravidez psicológica. Vomitando e com as tetinhas cheias de leite, como se esperasse uns bebezinhos para breve.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lula é eleito o líder mais influente do mundo pela "Time"


Não é à toa que ele foi indicado, não é à toa que podemos bater no peito e dizer: "Este é o MEU presidente."

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito nesta quinta-feira (29) pela revista americana “Time” como o líder mais influente do mundo. Lula encabeça o ranking de 25 nomes e é seguido por J.T Wang, presidente da empresa de computadores pessoais Acer, o almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, o presidente americano Barack Obama e Ron Bloom, assessor sênior do secretário do Tesouro dos Estados Unidos.

No perfil escrito pelo cineasta Michael Moore, o programa Fome Zero (praticamente substituído pelo Bolsa Família) é citado como destaque no governo do PT como uma das conquistas para levar o Brasil ao “primeiro mundo”. A história de vida de Lula também é ressaltada por Moore, que chama o presidente brasileiro de “verdadeiro filho da classe trabalhadora da América Latina”.

A revista lembra quando Lula, aos 25 anos, perdeu sua primeira esposa Maria grávida de oito meses pelo fato dos dois não terem acesso a um plano de saúde decente. Ironizando, Moore dá um recado aos bilionários do mundo: “deixem os povos terem bons cuidados de saúde e eles causarão muito menos problemas para vocês”.

A lista mostra os 100 nomes de pessoas mais influentes do mundo em diversas áreas –líderes da esfera pública e privada, heróis, artistas, pensadores, entre outros.

Entre os líderes em destaque também estão a ex- governadora do Alasca e ex-candidata republicana à Vice-Presidência dos EUA, Sarah Palin; o diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn; os primeiros-ministros japonês e palestino, Yukio Hatoyama e Salam Fayyad, e o chefe do Governo da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Abram alas que estou passando


Esta semana estava vindo para o Plano, diria centro, se estivesse em outra cidade, e um mendigo se atravessa na frente do carro. Quase atropelo o homem.
Na velocidade que eu vinha, com certeza os danos seriam grandes se eu tivesse pego o andarilho.
Me assustei. E depois comecei a pensar no desastre que seria se eu tivesse mesmo atropelado o ser.

Ai lembrei de uma conversa que tive com um pedreiro em um ônibus na volta de uma tarde de veraneio no Rio de Janeiro.
Estava eu e minha mãe voltando da Barra da Tijuca, depois de um lindo dia de sol. Depois de horas de descanso, de praia e de sonhos. Pensava eu: "bem que eu poderia ter um apartamento nesta praia". É verdadeiramente uma das praias mais lindas do Rio de Janeiro.

Voltando para casa, senta ao meu lado um garoto mais ou menos da minha idade. Na conversa, que se iniciava sobre a cidade do Rio de Janeiro, ele me contava também um pouco da sua história, da sua profissão, da sua rotina e de seus filhos. Lá pelas tantas me pergunta se eu já tinha subido ao morro, onde ele morava, e se já tinha participado de algum Funk no morro.

Disse que nunca tinha ido e ele começou a me contar como era a aventura.
Contou que faziam grupos e que se digladiavam no meio do funk.
Perguntei se ele não tinha medo de morrer, então ele me responde: "Moça, pobre nasceu pra sofrer ou pra morrer. Às vezes nem é tão ruim morrer, se for viver neste mundo de perdição."
Senti muita mágoa e desilusão na fala dele.
Ai perguntei sobre os seus filhos e ele me disse que a vida melhorou quando teve os filhos. Ao menos agora ele tem algum motivo pra ir trabalhar e para viver. Por mais que os filhos tenham lhe trazido mais responsabilidade e preocupação aos seus 23 anos.

Será que pobre nasceu só pra sofrer ou para morrer? não acredito nisso.
Mas quando vi a face do homem que quase atropelei, ele estampava uma tranquilidade de se espantar. Parecia que tanto fazia se eu atropelasse ele ou não.

Mas talvez ele possa ter pensado: "abram alas que estou passando".

segunda-feira, 15 de março de 2010

A pupila *


Tem uma canção que acho linda e sempre peço para meu amigo Jefferson cantar quando estamos reunidos e ele está nos dando a graça do seu violão. A letra é linda, o arranjo também. Compartilho aqui a letra da música ainda não gravada.

Haverá canção mais bela que orquestra em teus olhos?
Úmida com sons eu te toco
vedo os teus lábios
Como única opção te encho o umbigo
Como réstia de prazer
O falo em gemidos

O cordão por onde alçarás a luz
A cor dá tempero ao cheiro para as narinas
acordar com beijo estalado explodindo no ouvido
recordar de um sonho molhado encontrando um abrigo

os seus cabelos roçam meus tornozelos
minhas coxas e mais o que eu não vejo

Haverá canção mais bela que a pupila dilatada?
Emanada a clara idade de seu próprio sorriso
Haverá canção bela que a pupila entrelaçada?
Emanada a claridade de seu próprio desejo

* Letra de Carlos Odas e Jefferson Sooma

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Multidões sem rostos

É engraçado isso. Antes chegava em qualquer lugar em Santa Maria e cumprimentava uma galera. Hoje não conheço mais ninguém.
Chegamos na festa de reveillon, demos uma volta e fomos embora. Não era a nossa turma.
Sinto que Santa não é mais a minha cidade, é a cidade da minha família, do meu irmão, da minha vó.
Já em Brasília eu me sinto em casa.
Será que mudará quando nos mudarmos para o Rio?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Devorando horizontes*


Sempre fui uma pessoa de transgredir, subverter a ordem, de questionar os axiomas e de querer sempre saber onde as primaveras guardavam suas flores, antes de despontar com seu aroma e cores em nossos dias.

Desde pequeno, sempre quis saber onde o sol dormia antes de chegar radiante iluminando o dia, trazendo a luz e o calor que a natureza necessita para o milagre da vida.

As ondas do mar sempre me intrigaram. Como aquele movimento harmônico e sensual poderia acontecer mesmo durante a noite, sem ninguém para adimira-lo?

O orvalho conseguia me deixar horas pensando em como aquela chuva mágica e pequenina conseguia bordar gotas de luz em cada folha. Cada uma com sua trama e magia.

A metamorfose da lagarta e a borboleta eu nem quero falar. Uma coisa que se transforma em outra totalmente diferente era demais para uma cabecinha tão limitada.

Arco-íris bebendo água em ribeirão era algo de me deixar sem sono. Um facho de luz colorida que levava água de um lado para o outro me fazia imaginar o outro lado saindo água em sete cores.

Vivi angústias, frustrações, buscas infrutíferas, cansaços. Não conseguia perceber e nem entender aquilo que aparecia todos os dias.

Possuía a oportunidade de rever, dissecar, toda esta maravilha espetacular que fazia da minha vida pacata, um palco de intrigantes apresentações. Esta natureza é mágica mesmo, pensava...

Com o tempo, no tempo certo, fui descobrindo que sentir era diferente de entender. Comecei a compreender com o coração, a enxergar com a alma, a tocar com o pensamento...

Passei a me alegrar com os pardais que me visitavam no quintal de minha casa. Eles não precisavam me agradecer, seria um sonho poder conversar com pardais, quando eu colocava comida escondido para eles.

Bastava saber, melhor, sentir, que a atitude de dar a comida era mais importante. Que o agradecimento era apenas uma necessidade minha e não dos pardais.

Comecei a pensar no quanto a natureza era sábia. Ela esclarecia todas as questões que me afligiam sem precisar de cálculos, teses, quadros negros... Bastava sentir, estar aberto ao milagre.

Hoje me sinto muito perto do caminho que revelará o homem que serei para o resto da vida. Aquele que, com ajuda do tempo e do ambiente, vai conduzir a minha vida com a liberdade conquistada através de compreensão e consciência da missão, do ritmo da batida da vida, da solução das esperas, do que nunca vai mudar e de tudo aquilo que podemos contribuir para avançar na luta.

Ah, sim... ía esquecendo. Nunca me contentei com os horizontes. O que se escondia além das montanhas povoava minha mente dia após dia. Devorar horizontes é um dos meus pratos prediletos...

* Sócrates Magno Torres
Consultor e camaçariense
socrates@icooi.org

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cruzeiro do Sul

"Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul.
Aonde quer que eu vá, elas me perseguem.
Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino.
Não tenho nenhum Deus.
Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar a morte: ainda não.
Falta muito o que andar.
Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei.
Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro.
Em Montevidéo, existe um menino que explica:
- Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre"

Eduardo Galeano