quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Multidões sem rostos

É engraçado isso. Antes chegava em qualquer lugar em Santa Maria e cumprimentava uma galera. Hoje não conheço mais ninguém.
Chegamos na festa de reveillon, demos uma volta e fomos embora. Não era a nossa turma.
Sinto que Santa não é mais a minha cidade, é a cidade da minha família, do meu irmão, da minha vó.
Já em Brasília eu me sinto em casa.
Será que mudará quando nos mudarmos para o Rio?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Devorando horizontes*


Sempre fui uma pessoa de transgredir, subverter a ordem, de questionar os axiomas e de querer sempre saber onde as primaveras guardavam suas flores, antes de despontar com seu aroma e cores em nossos dias.

Desde pequeno, sempre quis saber onde o sol dormia antes de chegar radiante iluminando o dia, trazendo a luz e o calor que a natureza necessita para o milagre da vida.

As ondas do mar sempre me intrigaram. Como aquele movimento harmônico e sensual poderia acontecer mesmo durante a noite, sem ninguém para adimira-lo?

O orvalho conseguia me deixar horas pensando em como aquela chuva mágica e pequenina conseguia bordar gotas de luz em cada folha. Cada uma com sua trama e magia.

A metamorfose da lagarta e a borboleta eu nem quero falar. Uma coisa que se transforma em outra totalmente diferente era demais para uma cabecinha tão limitada.

Arco-íris bebendo água em ribeirão era algo de me deixar sem sono. Um facho de luz colorida que levava água de um lado para o outro me fazia imaginar o outro lado saindo água em sete cores.

Vivi angústias, frustrações, buscas infrutíferas, cansaços. Não conseguia perceber e nem entender aquilo que aparecia todos os dias.

Possuía a oportunidade de rever, dissecar, toda esta maravilha espetacular que fazia da minha vida pacata, um palco de intrigantes apresentações. Esta natureza é mágica mesmo, pensava...

Com o tempo, no tempo certo, fui descobrindo que sentir era diferente de entender. Comecei a compreender com o coração, a enxergar com a alma, a tocar com o pensamento...

Passei a me alegrar com os pardais que me visitavam no quintal de minha casa. Eles não precisavam me agradecer, seria um sonho poder conversar com pardais, quando eu colocava comida escondido para eles.

Bastava saber, melhor, sentir, que a atitude de dar a comida era mais importante. Que o agradecimento era apenas uma necessidade minha e não dos pardais.

Comecei a pensar no quanto a natureza era sábia. Ela esclarecia todas as questões que me afligiam sem precisar de cálculos, teses, quadros negros... Bastava sentir, estar aberto ao milagre.

Hoje me sinto muito perto do caminho que revelará o homem que serei para o resto da vida. Aquele que, com ajuda do tempo e do ambiente, vai conduzir a minha vida com a liberdade conquistada através de compreensão e consciência da missão, do ritmo da batida da vida, da solução das esperas, do que nunca vai mudar e de tudo aquilo que podemos contribuir para avançar na luta.

Ah, sim... ía esquecendo. Nunca me contentei com os horizontes. O que se escondia além das montanhas povoava minha mente dia após dia. Devorar horizontes é um dos meus pratos prediletos...

* Sócrates Magno Torres
Consultor e camaçariense
socrates@icooi.org

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cruzeiro do Sul

"Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul.
Aonde quer que eu vá, elas me perseguem.
Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino.
Não tenho nenhum Deus.
Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar a morte: ainda não.
Falta muito o que andar.
Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei.
Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro.
Em Montevidéo, existe um menino que explica:
- Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre"

Eduardo Galeano