quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não vá carregada para o parto*




O medo, a insegurança, a falta de auto-confiança, a distância em relação ao corpo são pesos que carregamos para o parto e vão condicioná-lo. Preparar-se para o parto é sobretudo aliviar a carga.

A parteira mexicana Naoli Vinaver diz que carregamos muitas malas conosco para o parto. Não é só a mala com as nossas roupas e as do bebé. São as malas com tudo o que temos por resolver na nossa vida, com tudo aquilo que o que nos amarra. São malas bem pesadas, por vezes. E às vezes são imensas. Durante o trabalho de parto vamos libertando-nos de muitas delas,vamos-nos desamarrando.

Por isso se diz que o parto pode ser transformador. Mas se o peso for excessivo, o parto pode arrastar-se,complicar-se ou até não ter início. Por isso, a enfermeira parteira Lúcia Leite diz que «a preparação para o parto faz-se no coração e na cabeça, trabalhando os medos e a auto-confiança.»

Por isso, o obstetra Ricardo Jones escreve: «Tanto quanto no sexo, existe muito mais no nascimento humano do que o que se pode encontrar no corpo e suas medidas.» Apesar de a obstetrícia ainda não incorporar na sua prática esta evidência científica, a verdade é que se descobriu «uma nova dimensão no nascimento, qual seja, a indissociabilidade das emoções e sentimentos ao lado dos eventos mecânicos já conhecidos.

Ficou evidente que muitas mulheres falhavam em ter seus filhos de uma forma mais natural porque algo além do corpo as impedia.» O medo faz com que as mulheres estejam contraídas e não deixa libertar as hormonas que estimulam as contracções e a dilatação. Isto é assim porque somos mamíferos e a natureza, que sabe o que faz, encontrou esta forma de proteger as nossas crias: elas não nasceriam em ambiente
ameaçador, mas apenas quando a mãe estivesse tranquila e segura.

Tendo em conta estas evidências, vale a pena preparar-se e aliviar alguma da sua carga. Faça-o por si e pelo seu bebé. Um parto com menos intervenção é um parto mais saudável, com menos riscos, que leva a um pós-parto infinitamente mais fácil. O poder de dar à luz o seu bebé está em si. Só tem de descobri-lo. Deixamos-lhe algumas dicas:

- Converse com alguém da sua confiança, fale dos seus medos, mesmo daqueles que parecem mais inconfessáveis, mais patetas, mais simples ou mais complicados.

- Se não tem ninguém com quem falar do mais íntimo do íntimo, dos medos mais inconfessáveis, se lhe custa verbalizar, ouvir-se dizer coisas que ainda nem percebeu muito bem... escreva. Um diário de gravidez é bom, mas é para deixar para a história. Escreva num caderno que seja só seu, onde não sinta os olhares de quem vai ler. Registe sentimentos, medos, inseguranças e estará a libertar-se de um grande
peso. Escrever é uma excelente maneira de deitar cá para fora porque ninguém nos está a ouvir, mas também de organizar as ideias, trabalhar os medos, estruturar as prioridades.

- Participe em listas de discussão sobre parto humanizado.

- Procure uma doula que a poderá acompanhará na gravidez, no parto e no pós-parto dando-lhe apoio emocional, ajudando-a a desfazer muitos dos seus medos.

- Faça uma lista daquilo que quer fazer ou resolver antes de do parto. Não se limite às compras e à preparação do quarto do bebé.

- Pratique ioga ou pilates. Ajuda não só fisicamente, mas também mentalmente, promovendo bem-estar e a união com o bebé.

- Aprenda técnicas de relaxamento ou meditação. Para quem tem altos níveis de ansiedade, estas técnicas são uma excelente forma de encontrar mais tranquilidade e confiança no próprio corpo. Um relaxamento profundo produz ondas cerebrais alfa, diminui a tensão arterial, reduz a tensão muscular, logo reduz também o stress e a
ansiedade.

- Visualização positiva: visualizar o bebé estimula a ligação com ele e acalma os medos.

- Abrande o ritmo perto do final da gestação. Se puder, suspenda o trabalho. Dedique-se a fazer o ninho e relaxar. Passeios à beira-mar e ouvir música são boas actividades para aproveitar o fim do tempo de gestação.


* Da matéria:
http://www.mae.iol.pt/artigo.php?id=1070113&div_id=3627

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Relato de um parto maravilhoso*


Faço aqui meu relato de parto, para troca de experiências, algo que me ajudou muito durante a gestação, trabalho de parto e parto.

Primeiramente, tive uma gestação muito tranquila. Sem problemas de saúde (a única coisa que me incomodava eram as dores nas costas e a gastrite que agravaram), diminui o ritmo de trabalho (que antes era tido como prioridade e tinha um ritmo doido), engordei apenas 7 kg e fazia aula para gestantes com a doula Fátima de Brasília.

Com 38 semanas estava com um estresse por causa da mudança do apartamento, ficamos 20 dias na casa de amigos. Nos mudamos finalmente no dia 23 de agosto (segunda-feira), e eu preocupadíssima, pois de segunda para terça seria virada de lua cheia. hehe

Na terça-feira, 24 de agosto, tive diversas contrações, quando estavam de 5 em 5 minutos com duração de 30 segundos corri pra médica, Dr. Lucila Nagata, que me examinou e disse que ainda não era hora e que quando fosse eu saberia e ai ligaria pra ela.

As noites de terça até sexta tive contrações fortes com espaçamento de 10 minutos de uma para outra. Porém, durante o dia estas contrações se espaçavam mais, me levando a crer que não teria forças pra esperar até quando o João Guilherme resolvesse vir ao mundo. Amanhecia o dia acabada, pois não conseguia dormir.

Quinta-feira, com 39 semanas, fiz uma ecografia, que dizia que o colo ainda estava fechado e que o bebê estava com 3.800kg. De quinta para sexta perdi o tampão.

Sexta-feira, dia 27 de agosto, fui na consulta ao meio-dia e a médica me informou que já estava com 3 cm de dilatação. Sai da consulta e fui passar minhas coisas para minha colega que ficaria no meu lugar, às 16h estava com contrações fortes e vim pra casa, quase vim de metrô, minha mãe que não deixou. Liguei pro meu marido ir me buscar, pois tinha parado de dirigir na terça-feira com medo de ganhar o bebê no trânsito.

Em casa, tomei um banho quente, fiquei na bola rebolando, a cada contração me agachava, ficava de cócoras e de quatro. Com tantas contrações coloquei tudo pra fora, vomitando e tendo diarreia. Às 19h liguei pro meu marido, que tinha ido dar aula, pedindo que voltasse naquele instante pq já estavam fortíssimas as contrações.

Nesta bela Brasília, onde tudo parece de outro mundo, do primeiro mundo, às vezes não passa de uma cidade do interior de Goiás (nada contra as cidades do interior, falo no sentido do improviso que é nossa saúde). O meu plano (Geap) cobre cinco hospitais, visitei todos no último mês para escolher onde teria o bebê, tudo ok! Eu, em pleno trabalho de parto, ligando para os hospitais e surpresa: três deles com a maternidade fechada devido à falta de pediatras e um sem vagas para parturiente, o único que sobrou foi o Daher que não possui UTI neonatal, o que não deixa nenhuma mãe tranquila. Mas foi a nossa opção.

Chegamos no Hospital às 20h45, demoramos para subir para o quarto, quando subimos a médica fez o toque e já estava com 8 cm de dilatação, ela rompeu a bolsa e descemos para a sala de parto.

Parto normalíssimo!!!Sem cortes, sem analgesia. Às 21h55 nasceu meu bebê lindo!!!!!Perfeito!

A cada contração eu pedia pra ele me ajudar no parto. Foi um baita de um parceiro, companheiro. Logo que nasceu veio para meus braços, ficando ali por uma hora. Depois fomos juntos para a sala de recuperação e o pediatra fez todos os procedimentos do meu lado. Logo subimos para o quarto. No sábado a noite já estávamos com alta e em casa.

Estou sangrando um pouco ainda, mas sem dores.

O João Guilherme está super bem. Mamando, dormindo e mamando, dormindo.

Ah!para surpresa nossa ele nasceu com 3.100kg e 50 cm.

Acho que o que ficou de lição é:
- Que o parto normal é dolorido sim, mas é possível e é lindo!!tenho certeza que minha ligação com meu filho será melhor e maior, pois passamos por aquele momento, sabe? aquele momento que não foi de ninguém mais. Só nosso!Claro que o papai e a vovó que assistiam tudo, estava ali desfrutando da felicidade junto, da emoção, daquele momento mágico.
- Que o parto normal é o fisiológico, é o normal. Acho que cesária é um recurso, óbvio!e faria se precisasse, mas não podemos entrar nas falsas indicações, como no meu caso poderia ser a do tamanho (as três últimas ecografias diziam que ele estava com mais de 3kg e eu tenho 53 kg e 1.50 cm, alguns médicos diriam que eu não poderia parir um menino de 3.800kg).
- Que nem sempre podemos confiar nos exames e nos médicos que nos examinam.
- Que na hora do parto precisamos mesmo é escutar o corpo e agir conforme o corpo pede, sabemos fazê-lo.
- Que a partir da descoberta da gravidez a gente precisa mesmo é curtir, é tão bom!

Amei!Amei tudo e estou amando mais ainda o meu filho que é um anjo!

* Relato feito para as listas de discussão que participei durante toda a gestação: partonatural@yahoogrupos.com.br, gestanteshub@googlegroups.com

Símbolos e Passagens*


Existe simbologia em torno de quase tudo que presenciamos, vivemos, somos apresentados em nosso dia-a-dia. A percepção destes símbolos que nos rodeiam são primordiais para o melhor entendimento dos processos e rituais que acontecem a todo momento e nos norteiam frente às barreiras subliminares que desafiam nossa intuição e nos levam a sentir, muito mais que propriamente entender as coisas.

Quando o Arcanjo Gabriel, arauto da “Boa Nova”, apareceu anunciando o aupicioso filho de Deus, que cresceria no imaculado ventre de Nossa Senhora, na passagem da anunciação, presenteou Maria com lírios. A espada contida no centro desta flor enigmática trazia a idéia de uma falo, um instrumento no qual o Espírito Santo seria fecundado simbolicamente naquela que seria a divina concepção.

Com o passar do tempo o lírio tornou-se a representação da fecundidade. Além do poder e simbologia de qualquer concepção, o lírio, sobretudo o do campo, converteu-se em uma forma de aproximação com Deus. Por sua singeleza, profundidade e por florescer de forma livre, o lírio do campo foi associado a representação autêntica do abandono consciente à vontade e aos desígnios Divinos.


Por sua vez, o galanto, que floresce dias antes da chegada da primavera, tem em sua iconografia a mensagem da esperança. O fato de anunciar que o inverno rigoroso dará lugar a campos e vielas floridas, faz com que esta flor precoce seja o elo de ligação entre a provação implacável dos dias frios e sombrios e a estação das cores e aromas primaveris. Ela anuncia, assim como o lírio, que algo que muito esperávamos chegaria de forma quase messiânica.


A chegada radiante de João Guilherme, exatamente no período que antecede a primavera, traz consigo esta mensagem de esperança e o advento de algo que mudará a vida dos que o rodeiam de maneira contudente. Um divisor de águas. Ele chega carregado do amor que une os mundos sensível e inteligível.


Este rebento brota de um ventre irrigado de busca, de curiosidade, em um tempo onde as transformações nos desafiam a cada momento. Em uma era onde a força se converteu em atitude, em que a percepção dos símbolos passaram a ser diferenciais competitivos e norteadores do básico instinto de preservação da especie e até na evolução do processo civilizatório.


Desejo que voce receba esta mensagem como quem recebe um ramalhete de lírios do campo e galantos. Que este afilhado, que nos unirá profunda e definitivamente, seja um ponto de referência, um ritual de passagem, em nossas atitudes perante as coisas, nós mesmos e este universo a qual contribuimos no movimento que nos equilibra e fazem de cada um de nós seres simples e harmônicos. Pequeninos e gigantes.


Um fraterno abraço.

* Sócrates Magno, seu compadre.