Sem levar em conta a dimensão histórica do desempenho eleitoral dos petistas na busca por uma cadeira no senado, a declaração é uma manipulação grosseira do real. Os fatos e os dados colocam os 220 mil votos de Rossetto na capital como o pior desempenho dos candidatos do PT ao Senado desde 1990, quando Delmar Steffen atingiu 90 mil votos – num período ainda de afirmação do partido. Dali em diante, o desempenho dos petistas em busca de uma cadeira no Senado teve sucessivas melhoras na capital dos gaúchos. Raul fez 256 mil votos em 1994, Bisol 262 mil em 1998 e, comparado ao desempenho dos petistas em 2002, quando não conseguimos reeleger nosso projeto no governo do estado, a performance de Rossetto é um desastre: Emília Fernandes fez 283 mil votos e Paulo Paim conquistou 366 mil porto-alegrenses. O significado disto é a perda de um contingente de eleitores petistas que gira entre os 50 mil e 100 mil votos em 2006 em relação ao pleito anterior.
O mau desempenho de Miguel entre os eleitores não pára no comparativo com as demais candidaturas do PT ao Senado. Analisando nossas candidaturas majoritárias de 2006, novamente o pré-candidato teve o mais fraco desempenho. Enquanto Olívio venceu na capital, Rossetto não venceu e ainda fez 35 mil votos a menos que o ex-governador. Miguel também não superou Lula – que teve imensas dificuldades em fazer sua candidatura decolar na cidade e no estado. Recebeu 20 mil votos menos que o Presidente. No cenário estadual, Miguel também não conseguiu superar Lula e Olívio.
Então, o companheiro Miguel não é tão "bom de voto" como querem fazer crer seus apoiadores. Aprofundando ainda mais a análise, até como critério de justiça, temos de verificar os dados das eleições de 1994, quando Rossetto concorreu ao posto de deputado federal, pois no atual sistema eleitoral (que deve ser amplamente reformado), a eleição dos deputados e vereadores é, infelizmente, definida pela pessoalidade. Mostrando cabalmente quem é ou não "bom de voto". Naquele pleito, Miguel foi eleito com apenas 25 mil votos, sendo que apenas 7 mil destes foram conquistados entre os eleitores da capital. Recebeu menos votos que Fortunati, Esther Grossi e Clóvis Ilgenfritz em Porto Alegre.
Para efeito de comparação (levando em conta os dados da capital), a companheira Maria do Rosário, quando concorreu pela primeira vez à vereança foi mais votada que Rossetto concorrendo a Deputado Federal em 1994. Dois anos depois, Rosário, em sua reeleição para a Câmara dos Vereadores, fez 13 mil votos a mais que Miguel havia feito dois anos antes. Na seqüência, as urnas de Porto Alegre sagraram Rosário a deputada estadual do PT mais votada em 1998 e a federal petista com melhor desempenho em 2002 e 2006.
Definido o ponto. Miguel não é "bom de voto". Isto posto, resta considerar o enganoso silogismo colocado no material de divulgação de sua pré-candidatura: sendo "bom de voto", o ex-vice-governador seria o melhor para recompor a Frente Popular. Como? Que legenda partidária se aliaria a um partido que apresenta um candidato com histórica dificuldade de emplacar em Porto Alegre? Ora, os dados eleitorais estão à disposição de todos os partidos, sejam do campo democrático-popular, ou não. Portanto, nossos aliados e adversários estão bastante cientes do potencial de ambos os pré-candidatos do PT e traçando suas estratégias.
Sendo assim, não cabe a manipulação. Se basta um click para o militante acessar o site do TRE-RS e comprovar que Rosário é muito melhor de voto que o companheiro Rossetto. Também basta uma pequena avaliação histórica para o militante reconhecer em Rosário melhores condições para unir o PT e a esquerda, ao contrário do que divulgam os apoiadores de Miguel em seu material de campanha. Nossos aliados do campo democrático-popular ainda lembram que Rossetto estava à frente da política que fragmentou o partido e afastou aliados quando estávamos no governo do estado. Logo, se associarmos aos elementos expostos a maior relação com a cidade e a maior consistência programática da companheira Maria do Rosário, na conjuntura ela passa a ser a única alternativa posta ao partido para rearticularmos o campo democrático-popular, no primeiro ou no segundo turno, e reconquistar Porto Alegre.
Por fim, é bastante importante salientar que as pessoas têm os mais diferentes talentos e isto não é diferente na política. O companheiro Miguel tem virtudes e talentos inegáveis. Entretanto, a conjuntura não é favorável ao que almeja. O objetivo deste artigo foi o de restabelecer a objetividade do debate. Afinal, em 16 de março, os petistas terão de decidir nossa candidatura levando em conta, dentre outras coisas, quem realmente é bom de voto.
Márcio Tavares dos Santos
Secretário Adjunto de Juventude do PT/POA