Cada momento da vida da gente a gente vive trazendo outros momentos, outras histórias, outras experiências e muitas expectativas, que nem sempre são só as nossas.
O momento do parto é um complexo de sentimentos, expectativas e é cercado de valores que carregamos ao longo da vida.
Quando engravidei do Francisco, estava há um ano e meio sem contraceptivo e aguardávamos a sua chegada há um bom tempo. Descobrimos a gravidez no dia do aniversário do nosso filho mais velho. E foi alí que o João Guilherme começou a dividir a atenção com o mano.
No final dos parabéns, agradeci a presença de todos e contei que a família estava aumentando. Família e amigos reunidos, foi uma gritaria de felicidade.
Começamos tudo de novo, escolha do obstetra, pesquisas de artigos e muito relato de parto. E é por isso que eu considero tão importante fazê-lo, pois me ajudou muito nos dois partos.
O pré-natal foi feito com a Dr. Lucila Nagatta, obstetra do primeiro filho. Fui a uma consulta com a Dr. Rachel Reis,que fez uma pergunta simples, mas que a resposta não é tão simples assim:
"- Como você quer o seu parto?"
Foi ali que relatei o parto do João Guilherme, que foi um parto natural maravilhoso. Mas a gente sempre quer mais perfeição. E o que eu não queria novamente era o estresse da internação (cheguei em parto ativo no hospital e com fortes contrações a internação foi muito demorada). Além disso queria que toda a família estivesse presente, principalmente meu filho mais velho.
Nos grupos de gestantes a gente aprende muito, troca muita experiência e conhece pessoas que fazem toda a diferença na vida da gente.
Foi reclamando do preço para fugir das intervenções desnecessárias nos partos realizados em Brasília que conheci a Enfermeira Obstetra Melissa Martinelli.
E na primeira conversa ela pergunta: "O que vc quer de verdade?! Vá lá no seu interior e me fale. Como você quer o seu parto?"
E minha resposta foi novamente: "eu quero um parto natural, sem estresse e com meu filho acompanhando"
E isto faz toda a diferença no parto: responder a pergunta "Como quero este momento? Como sonho o meu parto?"
Então começamos a falar sobre Parto Domiciliar, pois se encaixava no desenho que eu queria para o parto. A minha primeira opção seria a Casa de Parto São Sebastião e a segunda seria parto hospitalar com a obstetra do primeiro filhote - quem estava acompanhando o pré-natal.
Então, a Melissa veio um dia e me disse: "Sonhei com você parindo lindamente na banqueta de parto no chuveiro." E Eu: "E hoje eu estava no chuveiro e lembrando que fiquei horas na bola de pilates no chuveiro no trabalho de parto do João Guilherme."
Depois, sonhei que o parto tinha sido tranquilo e que tinha pego na cabecinha do Francisco quando estava coroando. Tinha estourado a bolsa e logo nasceu. E que quase que a Melissa e a Elisa (Doula) não chegavam a tempo na minha casa (!!).
Bom,conversei com meu marido e decidimos pelo parto domiciliar. Fizemos uma reunião eu, Edilson, Melissa e Elisa e conversamos sobre as evidências, riscos e benefícios. Estava segura que em casa seria tranquilo e seria "com mais amor".
Dia 14 de abril, terça-feira, fui a obstetra e estava com um centímetro de dilatação. Marquei ecografia pra a semana seguinte, mas Francisco nasceu no sábado. Nesta semana limpei a mesa da minha sala do trabalho, conversei com meu chefe sobre o meu substituto e deixei tudo encaminhado. Dirigi até um dia antes do parto. Eu estava tranquila. Contrações leves e esporádicas começaram a aparecer na quinta-feira.
No final da gestação voltei a fazer massagem e comecei a fazer Yoga. O pilates foi meu companheiro a gestação inteira, duas vezes por semana.
No sábado, dia 18 de abril, tinha massagem às 9h,Yoga às 11h e palestra sobre parto domiciliar às 15h. Acordei às 8h com leves contrações, acabei cancelando a massagem, fui monitorando as contrações e conversando com a Melissa por Whatssap. O tampão saiu mais ou menos neste horário.
Como o Yoga era na minha casa, acabei não cancelando e fazendo a aula. Em uma hora de aula tive umas nove contrações. João Guilherme parecia sentir que o mano estava chegando e fez a aula inteira comigo. Acabou a aula e a EO, a doula e a fotógrafa já estavam querendo vir para o parto.
Eu sentia meu corpo e via que as contrações ainda estavam moderadas, pedi que aguardassem. Acabei não indo à palestra, fiquei com medo de servir de exemplo prático heheh
Eram 16h, fui tomar um banho.
17h mandei uma mensagem para a equipe (Enfermeira Obstetra, doula e fotógrafa): "Se não quiserem perder o show, cheguem logo."
17h30 a Melissa chegou, logo chegou a Elisa e logo a Ana Tereza (fotógrafa estreante no meu parto).
Melissa chegou e fez o toque e estava com 3cm de dilatação. Juro que imaginava já uns 8cm.
Parei de medir o espaçamento das contrações, sentia apenas a intensidade delas, estava muito conectada com o meu filho e com meu corpo. A sensação que tinha é que não tinha espaçamento entre as contrações. Era uma atrás da outra. Em algum momento quis parar para deitar um pouco e não dei conta.
Meu irmão levou meu filho para dar um passeio, minha mãe já estava comigo e meu marido também em casa, preparando a piscina.
No parto do meu primeiro filho a cada contração o corpo pedia pra que eu me abaixasse, acocorasse. No trabalho de parto do Francisco a minha vontade era apenas de rebolar, achei um banquinho (aqueles de balanço de colocar os pés) e foi o melhor companheiro das contrações.
Jogava pra frente e pra trás, e, segundo a Ana Tereza, eu queria só ficar no escuro e sozinha, poucas massagens aceitei, música e conversa sempre me desconcentrava. No cantinho mais tranquilo e silencioso da casa era onde eu me sentia mais conectada ao bebê.
Minha doula disse que a forma com que eu respirava era profunda e concentrada mesmo, que rebolava nas contrações de forma selvagem e de maneira poderosa.
Foi ali no quarto dos meus filhos que fiquei a maior parte do tempo.
De hora em hora a Melissa escutava os batimentos cardíacos do filhote, e, perto das 19h, senti as contrações muito fortes e pedi pra escutar o bebê novamente. Supliquei ao Francisco que descesse mais devagar.
Queria que meu filho mais velho chegasse logo, sentia que a chegada do irmão estava próxima, e a presença do mano era importante. Logo meu irmão trouxe meu filho, mas não quis ficar, voltaria logo depois do nascimento.
Sentia uma sede descomunal.
Senti uma vontade forte de fazer xixi, mas não conseguia sentar e nem fazer de pé.
Em seguida fui pra piscina, a alegria do João Guilherme em nadar em uma piscina montada dentro de casa valeu a compra dela. Mas a conversa de todos devido a temperatura da água e se estava cheia o suficiente ou não foi me desconcentrando e as contrações deram uma trégua. Sai da piscina e voltei pro quarto, ficava de quatro apoios e com os cotovelos apoiadas no banquinho de balanço.
Às 20h a bolsa rompeu. Fui pro chuveiro.
No expulsivo a família toda perto da porta do banheiro, meu filho mais velho curiosíssimo e aguardando o grande momento da chegada do mano.
A Melissa me sugeria sentar na banqueta e eu não conseguia sentar de jeito nenhum.
Um pouco antes de coroar coloquei o dedo no canal e senti a sensação mais maravilhosa deste mundo: a cabecinha do meu pequeno. Sensação única!
Liberou um pouco de mecônio, mas os batimentos cardíacos estavam normais. Foi escutar a palavra mecônio e minha cabeça ficou a milhão, visualizei as malas de emergência e sabia que elas não sairiam de casa.
Às 20h16 Francisco veio ao mundo, no chuveiro, com a mamãe de pé. Dei um grito forte e o pequeno banheiro acolheu toda a equipe e a família para a grande chegada.
Sangrei mais que devia, e, por isso, recebi uma injeção de ocitocina.
Francisco veio perfeito. Apgar 9/10.
Pegar meu filho direto nos braços não tem preço.
Ter minha família toda junto, meu irmão, minha mãe, meu marido, meu filho. Foi lindo. Foi cheio de amor.
Papai e o mano que cortaram o cordão umbilical.
A placenta após minutos doloridos nasceu e teve sua participação apenas para tirarmos foto junto à manta que minhas amigas fizeram no chá de bebê. Tive vontade de plantar, mas a vontade passou...
Ficou um tempão no colo, depois a vovó e a EO fizeram os primeiros exames, "auxiliadas" pelo João Guilherme que estava em volta o tempo todo, encantado e com os olhinhos atentos sem perder um detalhe.
Nos cuidados do bebê não aplicamos o colírio de nitrato de prata e a vitamina K foi injetável.
Papai fez uma janta delícia para todos. Estava em um misto de alegria, nervosismo e ansiedade o tempo todo. No final, brindamos com um champanhe pra fechar com chave de ouro.
Várias coisas gostaria de falar ainda. Mas o mais importante é:
Sentir o corpo é fundamental. O corpo vai dando sinais do que precisamos fazer.
o pós parto é muito punk. Precisamos de apoio de familiares e amigos. E não sei se conseguimos nos preparar para ele como devíamos.
O equilíbrio mental é um desafio no pós parto.
A sutura e a saída da placenta é a parte mais dolorida do parto.
A amamentação, mesmo tendo amamentado meu primeiro filho seis meses exclusivo e até um ano e meio, foi um desafio no início.
Tenho doado leite desde os 20 dias do Francisco, temos muito leite. Fui ao Banco de Leite duas vezes fazer punção para aspirar com agulha quase 200 ml de leite da mama direita.
Parir é transformador!!!
Estou apaixonada cada dia mais pelo meu pequeno.
Meu parto domiciliar foi como sonhei: tranquilo e com minha família acolhendo o novo integrante.
Relato do primeiro parto: http://jeannelina.blogspot.com.br/2010/09/relato-de-um-parto-maravilhoso.html
sexta-feira, 5 de junho de 2015
terça-feira, 2 de junho de 2015
Pelo olhar de uma fotógrafa, de uma amiga, de uma companheira de estrada! *
Ela pariu sorrindo...
Sabe aquela pessoa linda? Que está sempre com um sorriso, com o olhar firme e com uma vaidade quase desnecessária?Jeanne é assim!
Foi na militância que nos conhecemos e passamos a dividir sonhos, ideologias, utopias... dividimos também cervejas, farras, cafés, almoços... mas nunca pensei no quanto seria especial dividir o dia do nascimento do seu filho Francisco.
Fotografar um parto era um desafio que despertava em mim um misto de dúvidas e medos.
Relutei em aceitar o convite até resolver dizer sim, eu topo! (e Jeanne é daquele tipo de pessoa que a gente nunca consegue dizer não).
Daí pra frente passei os dias pesquisando sobre parto domiciliar, estudando fotos sobre o tema e dialogando comigo mesma sobre a experiência que viveria.
Na manhã de sábado (18/04) uma mensagem de whats app me deixou tensa: "acho que Francisco nasce hoje, estou com leves contrações".
Mais tarde outra mensagem que me deixou com frio na barriga: "vem logo".
Sai correndo e quando cheguei encontrei Jeanne serena, sentindo dor, mas serena. Concentrada em seu corpo, em seu filho e irradiando uma coragem, típica dela.
A delicadeza do seu olhar ao me ver me encorajou também e como num passe de mágicas toda tensão e medo foram embora.
Mesmo com toda dor, ele sorria. Um riso de efeito terapêutico, que contagiava todos a sua volta (como a pessoa pari sorrindo e linda?!?). Difícil foi fotografar tanta plenitude!
Dizem que fotógrafo tem que ser meio malabarista e por alguns momentos foi assim que me senti quando Jeanne procurava os cantos mais apertados e escuros do apartamento.
Me apertava entre a parede e o armário do quarto, sentava no chão do corredor, me espremia num pedacinho do banheiro minúsculo em busca do melhor ângulo, da melhor luz... e assim se passaram horas até que um forte grito fez a emoção tomar conta do lugar: era Francisco chegando!
Como não se emocionar? Como conter as lágrimas que teimavam em cair? Fiquei paralizada!
Rejane, mãe da Jeanne, tocou no meu ombro dizendo: fotografa, fotografa...
Despertei de uma quase viagem (acho que fui bem longe mesmo!) e me vi ali fotografando o amor, não era só um parto, era o amor... Um amor que, por mais que já existisse durante a gestação, naquele momento se fez maior, cresceu, renovou forças e contagiou a todos no instante em que Jeanne, Edilson e João Guilherme viram o Francisco pela primeira vez... e isso é uma das coisas mais lindas de se ver!
Gratidão a vocês por ter vivido esse momento lindo...
Muito obrigada por terem me mostrado um jeito novo de ver a vida!
*Relato de Ana Tereza
Sabe aquela pessoa linda? Que está sempre com um sorriso, com o olhar firme e com uma vaidade quase desnecessária?Jeanne é assim!
Foi na militância que nos conhecemos e passamos a dividir sonhos, ideologias, utopias... dividimos também cervejas, farras, cafés, almoços... mas nunca pensei no quanto seria especial dividir o dia do nascimento do seu filho Francisco.
Fotografar um parto era um desafio que despertava em mim um misto de dúvidas e medos.
Relutei em aceitar o convite até resolver dizer sim, eu topo! (e Jeanne é daquele tipo de pessoa que a gente nunca consegue dizer não).
Daí pra frente passei os dias pesquisando sobre parto domiciliar, estudando fotos sobre o tema e dialogando comigo mesma sobre a experiência que viveria.
Na manhã de sábado (18/04) uma mensagem de whats app me deixou tensa: "acho que Francisco nasce hoje, estou com leves contrações".
Mais tarde outra mensagem que me deixou com frio na barriga: "vem logo".
Sai correndo e quando cheguei encontrei Jeanne serena, sentindo dor, mas serena. Concentrada em seu corpo, em seu filho e irradiando uma coragem, típica dela.
A delicadeza do seu olhar ao me ver me encorajou também e como num passe de mágicas toda tensão e medo foram embora.
Mesmo com toda dor, ele sorria. Um riso de efeito terapêutico, que contagiava todos a sua volta (como a pessoa pari sorrindo e linda?!?). Difícil foi fotografar tanta plenitude!
Dizem que fotógrafo tem que ser meio malabarista e por alguns momentos foi assim que me senti quando Jeanne procurava os cantos mais apertados e escuros do apartamento.
Me apertava entre a parede e o armário do quarto, sentava no chão do corredor, me espremia num pedacinho do banheiro minúsculo em busca do melhor ângulo, da melhor luz... e assim se passaram horas até que um forte grito fez a emoção tomar conta do lugar: era Francisco chegando!
Como não se emocionar? Como conter as lágrimas que teimavam em cair? Fiquei paralizada!
Rejane, mãe da Jeanne, tocou no meu ombro dizendo: fotografa, fotografa...
Despertei de uma quase viagem (acho que fui bem longe mesmo!) e me vi ali fotografando o amor, não era só um parto, era o amor... Um amor que, por mais que já existisse durante a gestação, naquele momento se fez maior, cresceu, renovou forças e contagiou a todos no instante em que Jeanne, Edilson e João Guilherme viram o Francisco pela primeira vez... e isso é uma das coisas mais lindas de se ver!
Gratidão a vocês por ter vivido esse momento lindo...
Muito obrigada por terem me mostrado um jeito novo de ver a vida!
*Relato de Ana Tereza
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