sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Provérbio Chinês

“Se quiseres fazer planejamento para um ano
PLANTE CEREAIS.
Se quiseres fazer planejamento para trinta anos
PLANTE ÁRVORES.
Se quiseres fazer planejamento para cem anos
ORGANIZE E MOTIVE A ORGANIZAÇÃO DO POVO”.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Democratizar o Brasil: projeto da jovem geração[i]


No próximo dia 12 de agosto, será comemorado o Dia Nacional e Internacional da Juventude. Para além de uma formalidade estabelecida pela Assembléia-Geral das Nações Unidas e pela Constituição Federal (Lei 10.515/02), esta é uma oportunidade de reflexão sobre o Brasil e, mais especificamente, sobre o processo de democratização do país.

Do alto dos meus 27 anos, já me acostumei às análises que tomam a minha geração como ponto de partida para projeções, em sua maioria sombrias e céticas, sobre o futuro da nação. Pesquisadores, analistas, acadêmicos dos mais variados calibres e origens refletem sobre o destino do Brasil a partir do estudo sobre o comportamento, a cultura, as manifestações e manias daqueles que, como eu, se veem enquanto “juventude”.

Se me disse acostumado, peço perdão aos companheiros. Mal acostumado seria a expressão verdadeira. Ora, quase sempre os tais pesquisadores, por despeito, ceticismo, arrogância, saudosismo ou sabe-se lá o quê, chegam à conclusão de que “não tem jeito!”. Essa é uma geração perdida. Desmobilizada, desinteressada, alheia às grandes questões, incapaz de transformar a realidade que a cerca, quiçá, conduzir os rumos do Brasil. O veredicto é sempre esse: no que depender dos jovens de hoje, nosso país aprofundará suas mazelas e perpetuará aquilo que tem de pior. Suas principais características, as más, é claro, serão elevadas à décima potência tamanha a desorganização desta jovem geração.

Bom, em meio a este lamento, quase desabafo, gostaria de dizer que nem tudo são lágrimas.

Há quase dez anos, tenho me dedicado a ser uma exceção àquela suposta regra, junto com milhares de companheiros(as). Militei no movimento estudantil, construí movimento social, integrei e dirigi juventude partidária, participei de gestões públicas e, nestes descaminhos, pude testemunhar um sem número de atividades, mobilizações e manifestações que contradizem, contundentemente, a Tese do Fracasso.

Ao revés. O que pude enxergar é que nosso país não aproveita, não reconhece e não dá oportunidade a uma legião de jovens atores e atrizes que poderiam facilmente, seja pelo seu tamanho populacional, seja pelo seu potencial transformador, protagonizar o processo de mudanças pelo qual o Brasil necessita passar. São jovens negros e negras, indígenas, mulheres, gays, lésbicas, travestis, transexuais, rurais, trabalhadores. É tanta energia, é tanta criatividade, é tanto axé, que fica difícil acreditar naqueles que de nós duvidam. E olha que hoje, ao contrário dos tempos de outrora, as possibilidades de organização e militância se expandiram. Temos jovens no movimento social, estudantil, comunitário, ambiental, nas ONGs, nas associações, na luta pela reforma agrária, na luta sindical, nas redes, nos fóruns, nos blogs e comunidades da internet, no YouTube... Não é possível que não vejam!

Mas, moçada, nesta trajetória também percebi que o enfrentamento com os “adultos”, o embate com os “coroas”, a disputa entre gerações não é única saída possível. Há alternativa e essa alternativa significa diálogo.

É preciso combinar procedimentos, adaptar linguagens e buscar consensos. Precisamos herdar o que da lembrança ainda existe de válido e verdadeiro, e, ao mesmo tempo, atualizar novas estratégias, novas fórmulas. Precisamos ajustar os melhores valores acumulados com as novas esperanças e perspectivas. É preciso combinar tradição e inovação.No lugar da disputa entre gerações, devemos propor o diálogo geracional. E na política isso é fácil, pois a atualização da luta é tão somente terminar um serviço que eles começaram: a democratização do Brasil.

Vejam só. No lugar de apontar, de denunciar as limitações da geração de 68, devemos propor um pacto. A proposta começa necessariamente pelo reconhecimento do papel histórico cumprido pela geração do Lula, do Zé Dirceu e companhia. Precisamos bater palmas para a luta contra a ditadura, o combate ao autoritarismo, a resistência ao estado de exceção e a vitória na redemocratização do Brasil. Precisamos reconhecer que foi essa geração que protagonizou a resistência à ditadura militar, a abertura democrática e a construção de uma alternativa viável de esquerda em um país amplamente marcado pelo elitismo, patrimonialismo, clientelismo e pela subserviência ao império de plantão. Precisamos reconhecer que foram eles, e elas, que elegeram um torneiro mecânico Presidente do Brasil!

O próximo passo, após o reconhecimento, é reivindicar este legado. Ora, precisamos dizer, gritar se necessário, que somos nós os herdeiros desta luta. Somos nós a possibilidade (real) de perpetuação da luta da esquerda, da luta democrática, somos nós os herdeiros legítimos da luta socialista brasileira.

E aí vem o pacto, ou a proposta de pactuação: ao tempo que reconhecemos as históricas vitórias da geração de 68, também reconhecemos que ainda há muito a fazer. E admitimos o bônus e o ônus deste legado. Se o bônus é a reivindicação do legado da esquerda e seu acúmulo histórico, o ônus é a não finalização do processo de democratização do Brasil. A tal redemocratização dos anos 80, por exemplo, restituiu o sufrágio, as eleições diretas, o direito de ir e vir, a liberdade de imprensa, de reunião, de livre associação política, mas não foi capaz de levar a democracia – ou os valores e/ou práticas democráticas – aos grotões de pobreza do país, às periferias urbanas e rurais, às minorias étnicas e raciais, às mulheres, aos jovens. De modo geral, a tal redemocratização serviu a setores da classe média, que inclusive tem vínculos históricos com a esquerda, e à parte minoritária da classe trabalhadora, que puderam voltar a gozar de direitos fundamentais negados pela ditadura. Contudo, em qualquer periferia brasileira é possível notar que o sonho da democracia ainda é algo vago, inatingível. Pois lá, o Estado não chegou. Não chegou saúde, educação, moradia, habitação. Lá a polícia continua em ritmo de ditadura, pois atira sem perguntar, mata em rito sumário, esconde corpos, fuzila, tortura, persegue.

Precisamos, então, atualizar nossa luta. Uma luta que também é deles, mas é muito mais nossa. Até porque, a perspectiva deles hoje é bem curta, e a nossa perspectiva é de cinqüenta, sessenta anos de luta. Acredito que este argumento, de diálogo, de entendimento, de valorização do que foi historicamente construído e de necessidade de atualização e renovação das estratégias é o nosso caminho. O argumento traz consigo uma noção de continuação, de perpetuação da batalha, de herança dos valores tradicionais combinada à atualização dos novos fronts. Tradição e inovação.

No mais, estou muito convencido de que essa é a nossa missão. A construção do outro mundo possível, a disputa pela hegemonia contemporânea, passa necessariamente pela percepção de novos atores sociais, novas expressões da exploração, da exclusão, da opressão e da repressão. A construção do socialismo passa inteiramente pelo aprofundamento da democracia no Brasil. Democracia aqui entendida como algo mais amplo, mais plural do que esta que aí está.

Acredito que esta é a nossa luta. Concluir o que estes caras não conseguiram terminar.


[i] Éden Valadares, 27, foi diretor de Escolas Pagas da UNE (2002), assessor da Frente Parlamentar de Juventude da Câmara Federal (2003-06), secretário estadual de juventude do PT Bahia (2005-07), coordenador do programa de governo Wagner Governador (2006), coordenador da Conferência de Juventude da Bahia (2007), secretário-executivo do Conselho (2009) e atualmente é coordenador de Políticas de Juventude do Governo da Bahia (SERIN).